terça-feira, 22 de novembro de 2011

Carta a Dilma

Nesta última sexta, por volta das 16h, uma comissão de representação de 5 cinco estados brasileiros ( ES, SP, BA, MS, PA), entregam nas mãoe da presidenta Dilma, nossas moções e cartas, fruto de nossos debates em 2011.
Envio fotos e as cartas para movimentações em nossas regiões.
Envio cópia da Carta Salvador para última leitura e manifestação

Carta


          Ao Presidente Lula, à D. Marisa
                        e à Nação Brasileira

Nós, mulheres educadoras da Rede de Educação Infantil Comunitária da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, pedimos cinco minutos de sua atenção para a situação de milhões de crianças entre 0 e 6 anos que hoje estão matriculadas em creches e pré-escolas comunitárias e beneficentes deste imenso país.
Em nossos municípios, como na maioria dos centros urbanos brasileiros, é cada vez mais comum encon­trarmos crianças de 3, 4 e 5 anos trabalhando e zanzando pelas ruas!  Mas a atenção da sociedade só se volta para elas quando já estão maiores, quando já são capazes de ameaçar! Então, os jornais e a TV falam dos meninos e meninas que estão nas ruas como se já tivessem nascido ali, brotado do asfalto! Esquecem de lembrar que essas crianças já tiveram 3 meses, 3 anos. E estão hoje nas ruas por serem filhos de políticas econômicas que concen­tram a renda; filhos da fome, da miséria física e espiritual de seus pais e da sociedade em que vivem. Os meios de comunicação falam dos adolescentes de rua como se tivessem nascido grandes... Mas, é bom perguntar: quem cuidou dos bebês que têm, hoje, 13, 15, 18 anos?
De acordo com o artigo 227 da Constituição Brasileira "É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao ado­lescente com absoluta prioridade, o direito à vida, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los à salvo de toda forma de negli­gência, violência, crueldade e opressão".
É em nome deste preceito constitucional que nos dirigimos à nação brasileira, em especial ao presidente Lula e à sua esposa, D. Marisa, assim como aos congressistas e governantes estaduais e municipais.
Somos mulheres educadoras! Desde finais da década de 70, assumimos a responsabilidade de cuidar de crianças pequenas, cujas mães, moradoras dos bairros mais pobres da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, precisavam trabalhar fora de casa. Com o objetivo primeiro de tirar as crianças da fome, do abandono, da falta de higiene e saúde, nos mobilizamos, conquistamos e organizamos espaços destinados a acolhê-las: uma casa, um barra­co, um salão da igreja ou da associação de moradores. Pouco a pouco, o compromisso com as crianças nos levou aos bancos escolares, ao curso normal, e até mesmo à universidade, buscando uma formação que nos torne capazes de contribuir para o seu desenvolvimento integral.
Hoje sabemos que esta não foi uma iniciativa isolada; que não apenas no Rio de Janeiro, mas também em Recife, em Salvador, São Luís, Fortaleza, Natal, Belo Horizonte, Belém, Porto Alegre, ou, mesmo em cidades menores, foram surgindo, Brasil afora, milhares de creches e pré-escolas comunitá­rias. Um número indefinido destas instituições conseguiu firmar con­vênios com organizações governamentais e não-governamentais, mas são muitas as que asseguram a sua sobrevivência graças à garra de seus educadores, à solidariedade de pequenos comerciantes locais e ao apoio de moradores das comunidades.
Para se ter idéia da situação, em 2001, estas instituições atendiam a mais da metade das crianças brasileiras de 0 a 3 anos que freqüentam creches no Brasil. Por esta razão, e pelo fato de prestarem serviços à população mais pobre do país, afirmamos que muitas das creches comunitárias são instituições públicas-não estatais! Elas se anteciparam aos governos municipais e estaduais no cumprimento do dever de assegurar o acesso a educação infantil onde não havia equipamentos estatais. Entretanto, caso o Congresso Nacional aprove a Medida Provisória nº 339, as crianças matriculadas nestas instituições comunitárias e beneficentes não terão acesso aos recursos do FUNDEB e continuarão como peças da economia informal, invisíveis para o poder público.
Se a Constituição Federal e a LDB afirmam o direito destas instituições aos recursos públicos; se o Brasil é um país de todos, como diz o nosso Presidente, então por que as crianças matriculadas em creches e pré-escolas comunitárias e beneficentes não terão direito aos recursos do FUNDEB?
O argumento que fundamentou o Artigo 8 da Medida Provisória nº 339 é o de que o repasse de recursos tem se constituído como mecanismo de evasão de verbas públicas para setores  privados. A nossa resposta a este argumento é a de que “público” não é sinônimo de “estatal”! Num país em que o Estado, historicamente, trabalhou a serviço do privado, a questão da evasão de recursos não pode ser re­solvida através de simples corte, mas pelo estabelecimento de critérios que assegurem transparência ao repasse e inaugurem novas relações entre estado e sociedade.
Sr Presidente, D. Marisa, Srs congressistas e governantes estaduais e municipais, cidadãs e cidadãos brasileiros! Nosso Movimento de Luta por Creche alimenta o sonho de que a lei maior de nosso país seja respeitada. Isto é, que independentemente de classe social, etnia, cultura ou gênero, todas as crianças gozem do direito de acesso a educação infantil; que todas as crianças sejam dignamente, carinhosamente, respeitosamente cuidadas e educadas, independentemente da natureza da instituição, entidade, ou grupo que realize e/ou assuma a responsabilidade do atendimento. 
Sem os recursos do FUNDEB, sem o apoio pedagógico e financeiro das Secretarias Municipais de Educação é impossível que creches comunitárias assegurem um serviço de qualidade para as crianças cujas famílias vêm sendo historicamente excluídas dos direitos mais elementares de cidadania.
 Basta de convênios indignos, que alimentam com migalhas a sobrevivência das nossas creches. Não às políticas conservadoras, clientelistas e eleitoreiras que visam transformar as iniciativas populares em programas educacionais de baixo custo, que ampliam o atendimento, mas não asseguram qualidade. Não aos programas de atendimento que, em realidade, isentam o Estado e penalizam a parcela mais pobre da população! Queremos acesso aos recursos públicos! Queremos transparência nos mecanismos de repasse! Queremos ser incluídas nos processos de elaboração e definição de políticas públicas voltadas para a Educação e a Assistência às crianças pequenas em nosso país. Temos o direito de ser incluídas nos programas do MEC voltados para a educação infantil!
     Nesse sentido:
-         pedimos aos congressistas a revisão do Art. 8 da Medida Provisória nº 339 de 28/12/06, com base nos art 213 da Constituição e o art. 77 da LDB,  que asseguram repasse de verbas para instituições comunitárias.
-         pedimos ao Presidente Lula e à sua esposa, D. Marisa, que, pessoalmente, interfiram neste processo.
-         solicitamos ao MEC, que convoque um amplo seminário dedicado ao debate de experiências de conveniamento e à discussão de critérios de financiamento e repasse de recursos.