terça-feira, 3 de abril de 2012

Concepção de educação Infantil



“Sabem por que é que eu pinto tanto   menino em gangorra e balanço?
Para botá-los no ar, feito anjos.”
                                Candido Portinari


É muito atual o esforço de se refletir sobre a concepção de Educação Infantil, conceito amplo, carregado de idéias e significados com grande abrangência no campo educacional. É a expressão de processos de formação por grupos distintos. A  nossa concepção nasce do próprio trabalho que vem se realizando, pesquisando e desenvolvendo com as crianças pequenas. Procuro pensar conceitos como este como um fenômeno social que busque valorizar as relações entre criança e infância. O brincar e as diferenças, como fio condutor para pensar a concepção de educação infantil.
Historicamente[1] a ausência de políticas públicas voltadas para o atendimento à criança de 0 a 6 anos no campo educacional, sobretudo entre a população de baixa renda, provocou um considerável crescimento na criação de centos de educação infantil, na década de 1980 para atender à demanda da época, que se reflete nos dias atuais no processo e no panorama da política educacional voltada para a Educação Infantil. É notório o avanço nas mudanças do ponto de vista pedagógico e político...



O movimento comunitário, desde a sua origem, possui uma tradição histórica que lhe confere um marco próprio de pensar a infância, a educação e os profissionais a ela vinculados, numa perspectiva de compreensão das múltiplas culturas que habitam o cotidiano das crianças, especialmente das mais pobres. Ao mesmo tempo este movimento vem expressando um compromisso social, ético e político no desenvolvimento social, econômico e cultural das comunidades nas quais está inserido                                                             
O grande desafio tem sido pensar e repensar a concepção de educação infantil estabelecendo relações com a criança e a infância e a organização do espaço e do tempo de cada uma. Este é um tempo de muitas discussões e interrogações frente a textos legais, que apontam para o direito à Educação Infantil.
A Constituição Brasileira, promulgada em outubro de 1988, estabelece que: o Estado tem o dever com a educação que será efetivada mediante a garantia de atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade (Art. 208). 
Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA (Lei no. 8.069/1990).As crianças e adolescentes deixaram de ser rotulados de “em situação irregular” para terem seus direitos garantidos em uma doutrina sócio-jurídica de “proteção integral”, preconizada pela ONU, tendo o Brasil como signatário.
A LDB – Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional (Lei no. 9394/1996), estabelece as diretrizes educacionais nacionais e o atendimento em creche, às crianças de até três anos de idade e em pré-escolas, às crianças de 4 a 6 anos.       
Contudo, sabemos que mudanças que traduzem qualidades educacionais não ocorrem somente por meio de leis e diretrizes. É preciso que as concepções e engajamentos sejam incorporados pelos atores envolvidos. Assim, a concepção de educação infantil passa pelo projeto de formação de sujeito critico, criativo, capaz de se apropriar de conhecimento na construção da cidadania.
Durante décadas a infância foi vista como objeto de cuidado materno. Historicamente a construção de Infância foi se dando a partir do outro, da escola, e das políticas públicas. Hoje, as pesquisas apontam para outro olhar de infâncias, que passam a ser responsabilidade da Família, do Estado e da Sociedade, com uma reflexão de condições e possibilidades.
Tenho, ao longo do tempo, participado de uma organização social, sem fins lucrativos, sem distinção de credo, raça, cor, sexo ou religião, que congrega instituições comunitárias, de educação infantil, com ações articuladas a nível municipal, estadual e federal, na realização de experiências em defesa dos direitos básicos das crianças pequenas à educação.
Ao refletirmos na concepção de educação Infantil devemos ampliar o olhar para a criança e estabelecer instrumentos e processos que levem em conta a especificidade, e consequentemente a estratégia para compreensão de cidadão com direito ao acesso e à permanência na  educação, onde a brincadeira, a cultura, possam                promover e garantir a manutenção das infâncias.
É nesse horizonte que olho para a concepção de Educação Infantil na perspectiva de se discutir e repensar uma concepção ampliada dentro da preocupação com as brincadeiras, o lúdico, com a capacidade de recursos físicos e humanos habilitados.
O desafio é grande, pois, a educação infantil ocupa duas facetas, a de cuidar e de educar, o que exige participação, cumplicidade e competência.  Portanto considero que os anos 80 foram marcados por mobilizações em torno da criança e do adolescente, o que significou a participação ampla da sociedade em busca de afirmação de concepção de Criança e assim, ela ganha o mundo como sujeito de Direito, histórico com possibilidade de desenvolver-se afetiva e cognitivamente.
Precisamos olhar para a Educação Infantil como um conjunto de Diretrizes, metas, procedimentos, processo de interações articulados com os poderes públicos e com a sociedade, na perspectiva de formulação e implementação de políticas, pela universalização do atendimento efetivo que contemple equidade e qualidade da Educação Infantil,   para todas as crianças independentemente de sua classe social.

Palavras – Chave: Infância; Integração; Concepção, criança, Educação.

Referência bibliográfica:

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm
______. Lei no. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm
______. Lei no. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm
FPEI/RJ. Folder. Rio de Janeiro: Fórum Permanente de Educação Infantil, 2009.

Sobre o autor: Maria Luzinete Moreira  Educadora e Coordenadora Pedagógica do Centro de Educação Infantil Comunitário Estrelinha Azul, Conselheira pelo CMDCA de São Gonçalo, Integrante do Fórum DCA de São Gonçalo, da Rede de Integração de Educação Infantil do RJ, do Fórum Permanente de Educação Infantil do RJ, e do Comitê Diretivo do Mieib, representando a Região Sudeste.
Contexto de Produção: para Seminário de Concepção de Educação Infantil – MEC / RNPI).


[1] A creche/Pré-Escola são conquistas das mulheres trabalhadoras, brasileiras, foram elas  que procuram prover este atendimento em áreas mais carentes. Assim é possível perceber ao longo da historia de luta pela Educação Infantil identificar as diferentes concepções de educação, criança, infância, elaboradas a partir das visões ideológicas e conjunturais: política, sociais e econômicas. O movimento de luta pró-creche vem ocupando o lugar de protagonista compromissado com o político-pedagógico, na busca de garantia e promoção  da Política de Educação Infantil.

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